domingo, 31 de março de 2013

Teoria do Continuísmo e Descontinuísmo

Por Jéssica Oliveira
Graduanda em Ciências Biológicas

Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/filcc/man.woodcut.jpg


Longas discussões são travadas sobre a perspectiva a adotar para pensar e descrever a evolução das ciências, e aí surge a questão: a ciência progride cumulativamente ou os novos conceitos invalidam ou substituem os antigos? Para isso apresentam-se as teorias do continuísmo e descontinuísmo.
Segundo os continuístas, a ciência progride sem sobressaltos uma vez que cada teoria contem fragmentos, as bases ou os embriões da teoria seguinte. Defende que o objeto da ciência e a verdade científica são pressentidas e que seriam, ao longo da história, objeto de sucessivas aproximações num processo, embora lento, de evidente progresso contínuo e de alargamento progressivo. Ao longo do tempo, seriam descobertas novas verdades que se acumulariam às outras já adquiridas.
De acordo com os descontinuístas, a ciência progride através de rupturas, por negação de teorias anteriores. Estas epistemologias estão especialmente atentas não às filiações mas às rupturas, não aquilo que liga as teorias entre si mas aquilo que as separa. O progresso dos conhecimentos científicos faz-se através de rupturas, isto é, através de grandes alterações qualitativas que não podem ser reduzidas a uma lógica de acréscimos de quantidades; faz-se através de momentos em que se quebra a tradição e em que esta é substituída por uma nova teoria.
Para Bachelard, a investigação científica passa pela ultrapassagem de limites. Isto significa que não há investigação sem interferência de obstáculos (obstáculos epistemológicos). Estes não são propriamente as dificuldades próprias da complexidade do objeto que se está a investigar; eles são fundamentalmente elementos internos, isto é, inerentes ao cientista, que atrasam, dificultam, travam, impedem, desvirtuam a investigação científica. Segundo Bachelard, há descontinuidade epistemológica ou ruptura com o conhecimento vulgar – senso comum, com a filosofia que anteriormente tratava desses problemas, com as categorias, evidências, explicações anteriormente concebidas e que se demonstram serem de ordem puramente ideológica.
Bachelard defende o descontinuísmo, porque constatou o surgimento inesperado de teorias absolutamente novas. Afirma que o que há de errado nas teorias anteriores é posto evidentemente de lado, mas o que há de positivo nessas mesmas teorias não é pura e simplesmente destruído, mas sim reestruturado numa teoria mais ampla.
Então Bachelard responde como se desenvolve uma ciência: por correção de erros, negação e generalização dialéticas. É que Bachelard constatou que no processo de evolução de uma dada ciência, havia súbito rebentamento de teorias novas.
Assim, concluiu que o conhecimento científico atual não é fruto de uma acumulação progressiva de problemas sempre mais complexos; o progresso científico tem lugar numa articulação dialética em que o saber científico não atinge a sua verdade pelo aprofundamento gradual das verdades precedentes, mas por rupturas e reorganizações completas. A ciência se caracteriza historicamente por uma extrema sensibilidade dialética, que o seu progresso é descontínuo e que este se faz por ultrapassagem de obstáculos, em que o erro tem um papel positivo.

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